O que fazem um bioquímico e um enzima - numa tarde de Verão!
Um bioquímico, como cientista que é, não pode fazer muito mais que usar modelos que permitam explicar as observações que faz. Como qualquer outro cientista. Um homem observa que uma maçã cai para baixo e nunca para cima. Interroga-se porquê – mas não sabe (provavelmente nunca saberá por que é assim). O mais que pode é imaginar uma força (a que chamará gravítica) que puxa a maçã para baixo, e não para cima. Um bioquímico não está muito interessado numa maçã... mas poderá estar interessado no comportamento de um enzima, por exemplo. O que não deixa de ser curioso é que o primeiro homem pode imaginar que a mesma força puxa o enzima para baixo, dentro de uma célula – é bom que não estejamos parados; na verdade há muito mais a ser puxado para baixo para além do enzima... há outras proteínas, há as próprias células que são também puxadas para baixo (para o limbo de um vaso sanguíneo, por exemplo) e há todos os fluídos, dentro de um corpo, que também são puxados para baixo por essa força que o homem imaginou e a que chamou gravítica...
Agora vamos ao comportamento. Um enzima não se comporta bem nem mal... isso são conceitos maniqueístas, não servem para enzimas! Então o que é isso, “comportamento de um enzima”? Será que os enzimas têm livre arbítrio? Não me parece muito plausível... são aglomerados de moléculas, lembram-se? Bem. O comportamento de um enzima é medido pela capacidade que ele tem para fazer o seu trabalho – a catálise. Reparem, um enzima não é bom nem mau em relação a outro. Simplesmente é mais ou menos eficaz por comparação. Um enzima com metade da eficácia de outro não é “pior”, é simplesmente “menos trabalhador” (para um determinado substrato). Esta capacidade de trabalho é geralmente medida por uma constante cuja origem será explicada mais à frente: o número de turnover, kcat. Quanto maior for esta constante para um determinado enzima, maior é a sua capacidade de converter substrato em produto. Esta capacidade está relacionada com a rapidez com que o enzima catalisa a conversão mencionada – logo, pode estar associada ao número de centros activos do enzima (um enzima pode ter mais do que um centro activo – centro activo é o que um bioquímico chama ao local de ligação do substrato no enzima) ou à afinidade do enzima para um determinado substrato. No entanto é preciso ter cuidado com as palavras... é que afinidade e eficiência podem ser coisas diferentes consoante os ouvidos que as ouvem. E selectividade... Mas isso fica para uma outra história. Modelos de comportamento serão, em princípio, o tema do próximo episódio. J
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