"A scientist shouldn't be asked to judge the economic and moral value of his work. All we should ask the scientist to do is find the truth - and then not keep it from anyone." Arthur Kornberg

sexta-feira, agosto 25, 2006

Sobre o Herpes Zoster (Zona)

Talvez pareça desnecessário um comentário sobre a razão deste post mas aqui fica, mais que não seja para me lembrar mais tarde, se a memória não me fizer esse favor.

Uma amiga contou-me que o pai estaria provavelmente a sofrer de zona. Digo provavelmente porque lhe faltava, na altura, a consulta médica de confirmação.

E era, de facto. Zona ou Herpes Zoster, para ser correcto (a primeira é uma denominação mais popular). Na altura disse-lhe que havia uma relação da doença com a mononucleose infecciosa, vulgarmente conhecida como “doença do beijo”. Mas não estava certo. Essa é causada por um vírus diferente, o EBV (Epstein-Barr vírus). Já não me lembro por que razão associei as doenças na altura. O Herpes Zoster (HZ) está de facto relacionado com uma doença conhecida, que contraímos usualmente na infância: a varicela. A relação é simples, o vírus é o mesmo. É de uso corrente a denominação varicella zoster (VZV) mas parece-me que o nome mais moderno do vírus seja herpesvirus humano 3 (HHV-3). Os tipos 1 e 2 são responsáveis pelo herpes simples; o tipo 4 pela mononucleose infecciosa (Aha! Eu sabia que havia uma relação! — é que estou a fazer pesquisa à medida que escrevo…) e o tipo 5 por infecções diversas e, muitas vezes, graves: hepatite, pneumonia, etc. Mas não me quero dispersar demasiado.

Este HHV-3 pode não ser totalmente eliminado quando temos varicela em criança. Às vezes, alguns elementos do grupo que originou a doença mantêm-se latentes dentro de gânglios nervosos por um período que pode ir de alguns meses a muitos anos, voltando a manifestar-se já na idade adulta. Não se sabe ao certo a razão desta “reactivação” (é um bom tema de investigação!) mas pensa-se que esteja relacionada com situações de stress, envelhecimento ou deficiências momentâneas ou permanentes do sistema imunitário. Na maior parte das vezes a recorrência do HHV-3 só se verifica uma vez.

O vírus instala-se no sistema nervoso periférico (SNP) e causa mazelas extremamente desconfortáveis. Ora, tudo o que afecta a condução nervosa é problemático, uma vez que se faz sentir. Neste caso o vírus encontra caminho através do nervo próximo do qual está alojado, até à superfície do corpo (pele) provocando inflamação do nervo e erupção cutânea, o que dá origem, na maioria dos casos, a dores muito fortes. Geralmente ocorre a formação de pequenas bolhas, a partir das erupções cutâneas, contendo o vírus. Passados alguns dias estas bolhas ulceram, tornam-se amareladas e sofrem uma espécie de esclerose (ficam mais duras, formando uma crosta). As crostas acabam por cair, passadas algumas semanas mas deixam cicatrizes nos locais donde partiram. Isto não é, no entanto, o pior da doença. O pior vem depois. Uma vez lesados, os nervos produzem constantemente fortes impulsos nervosos que são encaminhados para o cérebro, transmitindo à pessoa uma forte sensação de dor. Esta situação pode durar meses ou anos, dependendo da idade e saúde da pessoa. É costume o aparecimento da doença ser unilateral, ou seja, assimétrico (só ocorre num lado do corpo, na área afectada). Isto acontece porque o vírus se manifesta no troço nervoso na zona do gânglio de onde partiu, não alastrando para outras regiões. Surge habitualmente no tronco, seja nas costas ou no peito e, por vezes, no pescoço e face. No caso de surgir na face, a doença recebe um epíteto: Herpes Zoster Oftálmico e pode, em casos graves, não tratados, levar à cegueira.

A doença costuma desaparecer por si, por isso, em casos simples, não são administrados quaisquer fármacos, exceptuando-se, eventualmente, um analgésico para ajudar a suportar as dores. Por vezes administra-se um fármaco antiviral chamado Acyclovir, o qual resume um pouco os efeitos da doença. A inflamação pode ser combatida através do uso de corticosteróides (análogos das hormonas produzidas pelas glândulas supra-renais e que intervêm na defesa do organismo). No entanto, estas medidas variam de pessoa para pessoa, consoante factores como o tempo de detecção, a idade e a saúde.


Fontes/Bibliografia:

  1. http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/000858.htm;
  2. http://en.wikipedia.org/wiki/Herpes_zoster;
  3. Manuila, L. e A., Lewalle, P., Nicoulin, M., Dicionário Médico, 2ª ed., Climepsi Editores, 2001, Lisboa;
  4. Vários Autores, Enciclopédia de Medicina, Volume 1 (A-H), 1ª ed. portuguesa, Selecções do Reader’s Digest, 1993, Lisboa.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Obrigado pela partilha deste conhecimento.
Soube ontem que tinha esta doença (começou a manifestar-se há uma semana) e foi simpático encontrar aqui esta informação!
Vou tomar um antivírico e pouco mais (ainda não tenho muitas dores).
O que eu ainda procuro e não encontro é informação sobre o contágio.

Mais uma vez obrigado!

10:21

 

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