"A scientist shouldn't be asked to judge the economic and moral value of his work. All we should ask the scientist to do is find the truth - and then not keep it from anyone." Arthur Kornberg

quarta-feira, agosto 30, 2006

Varíola (Smallpox, em inglês, ou Bexigas, desusado)

A varíola é uma doença infecciosa aguda e contagiosa causada por um vírus da família do ortopoxvirus, geralmente chamado vírus da varíola. Foi, em tempos, uma das doenças mais temidas no mundo dada a sua potencialidade letal. Pensa-se que terá surgido há cerca de 3000 anos, na Índia ou no Egipto, tendo sido uma das doenças mais devastadoras que a humanidade já conheceu ao longo dos séculos, não lhe sendo conhecidos quaisquer vectores para além dos seres humanos. Sem tratamento eficaz conhecido, a varíola matou 30% dos infectados e deixou marcadas cicatrizes em 65-80% dos sobreviventes, habitualmente mais proeminentes na face. A cegueira chegou a ser uma das principais consequências da doença. Em 1798, Edward Jenner mostrou que a inoculação de um indivíduo com vacínia (cowpox, em inglês: o equivalente à varíola nas vacas) podia protegê-lo contra a varíola humana, trazendo a primeira esperança de que a doença pudesse vir a ser controlada. Entre 1950 e 1967 (cerca de 150 anos após a introdução da vacinação) registou-se um decréscimo de cerca de 75% nos casos registados de infecção. Nesse mesmo ano (1967), a OMS (Organização Mundial de Saúde, WHO – World Health Organization, em inglês) deu início a um programa de erradicação da doença através do uso da vacinação global com a colaboração de vários centros de saúde e hospitais por todo o mundo. Através do sucesso desta erradicação em larga escala, a varíola foi circunscrita a apenas uma zona do continente Africano e depois a um último caso natural registado na Somália em 1977. Desde então o único caso registado foi causado por um acidente num laboratório em Birmingham, UK, em 1978, causando uma morte e um surto limitado da doença, imediatamente controlado. A palavra final da comunidade científica sobre a erradicação da doença ocorreu em 1979 após certificação baseada numa verificação intensa das actividades em todos os países do mundo por uma comissão de cientistas. O desaparecimento da varíola foi reforçado logo no ano a seguir, 1980, numa assembleia da OMS. Desde então a maior parte dos países já suspendeu a vacinação uma vez que não subsiste o perigo de contracção da doença, afastados que estamos quase 30 anos do último caso registado, e dado o risco de encefalite devido à vacina. O vírus não é mantido em mais de quatro laboratórios em todo o mundo, pronto a ser utilizado no fabrico de vacinação caso alguma vez volte a ser necessário.




(continua…)


Fontes/Bibliografia:

  1. Manuila, L. e A., Lewalle, P., Nicoulin, M., Dicionário Médico, 2ª ed., Climepsi Editores, 2001, Lisboa;
  2. Vários Autores, Enciclopédia de Medicina, Volume 2 (I-Z), 1ª ed. portuguesa, Selecções do Reader’s Digest, 1993, Lisboa;
  3. "Smallpox", Encyclopaedia Britannica, Inc., DVD-ROM, Chicago, USA, 1994-2001.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Sobre o Herpes Zoster (Zona)

Talvez pareça desnecessário um comentário sobre a razão deste post mas aqui fica, mais que não seja para me lembrar mais tarde, se a memória não me fizer esse favor.

Uma amiga contou-me que o pai estaria provavelmente a sofrer de zona. Digo provavelmente porque lhe faltava, na altura, a consulta médica de confirmação.

E era, de facto. Zona ou Herpes Zoster, para ser correcto (a primeira é uma denominação mais popular). Na altura disse-lhe que havia uma relação da doença com a mononucleose infecciosa, vulgarmente conhecida como “doença do beijo”. Mas não estava certo. Essa é causada por um vírus diferente, o EBV (Epstein-Barr vírus). Já não me lembro por que razão associei as doenças na altura. O Herpes Zoster (HZ) está de facto relacionado com uma doença conhecida, que contraímos usualmente na infância: a varicela. A relação é simples, o vírus é o mesmo. É de uso corrente a denominação varicella zoster (VZV) mas parece-me que o nome mais moderno do vírus seja herpesvirus humano 3 (HHV-3). Os tipos 1 e 2 são responsáveis pelo herpes simples; o tipo 4 pela mononucleose infecciosa (Aha! Eu sabia que havia uma relação! — é que estou a fazer pesquisa à medida que escrevo…) e o tipo 5 por infecções diversas e, muitas vezes, graves: hepatite, pneumonia, etc. Mas não me quero dispersar demasiado.

Este HHV-3 pode não ser totalmente eliminado quando temos varicela em criança. Às vezes, alguns elementos do grupo que originou a doença mantêm-se latentes dentro de gânglios nervosos por um período que pode ir de alguns meses a muitos anos, voltando a manifestar-se já na idade adulta. Não se sabe ao certo a razão desta “reactivação” (é um bom tema de investigação!) mas pensa-se que esteja relacionada com situações de stress, envelhecimento ou deficiências momentâneas ou permanentes do sistema imunitário. Na maior parte das vezes a recorrência do HHV-3 só se verifica uma vez.

O vírus instala-se no sistema nervoso periférico (SNP) e causa mazelas extremamente desconfortáveis. Ora, tudo o que afecta a condução nervosa é problemático, uma vez que se faz sentir. Neste caso o vírus encontra caminho através do nervo próximo do qual está alojado, até à superfície do corpo (pele) provocando inflamação do nervo e erupção cutânea, o que dá origem, na maioria dos casos, a dores muito fortes. Geralmente ocorre a formação de pequenas bolhas, a partir das erupções cutâneas, contendo o vírus. Passados alguns dias estas bolhas ulceram, tornam-se amareladas e sofrem uma espécie de esclerose (ficam mais duras, formando uma crosta). As crostas acabam por cair, passadas algumas semanas mas deixam cicatrizes nos locais donde partiram. Isto não é, no entanto, o pior da doença. O pior vem depois. Uma vez lesados, os nervos produzem constantemente fortes impulsos nervosos que são encaminhados para o cérebro, transmitindo à pessoa uma forte sensação de dor. Esta situação pode durar meses ou anos, dependendo da idade e saúde da pessoa. É costume o aparecimento da doença ser unilateral, ou seja, assimétrico (só ocorre num lado do corpo, na área afectada). Isto acontece porque o vírus se manifesta no troço nervoso na zona do gânglio de onde partiu, não alastrando para outras regiões. Surge habitualmente no tronco, seja nas costas ou no peito e, por vezes, no pescoço e face. No caso de surgir na face, a doença recebe um epíteto: Herpes Zoster Oftálmico e pode, em casos graves, não tratados, levar à cegueira.

A doença costuma desaparecer por si, por isso, em casos simples, não são administrados quaisquer fármacos, exceptuando-se, eventualmente, um analgésico para ajudar a suportar as dores. Por vezes administra-se um fármaco antiviral chamado Acyclovir, o qual resume um pouco os efeitos da doença. A inflamação pode ser combatida através do uso de corticosteróides (análogos das hormonas produzidas pelas glândulas supra-renais e que intervêm na defesa do organismo). No entanto, estas medidas variam de pessoa para pessoa, consoante factores como o tempo de detecção, a idade e a saúde.


Fontes/Bibliografia:

  1. http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/000858.htm;
  2. http://en.wikipedia.org/wiki/Herpes_zoster;
  3. Manuila, L. e A., Lewalle, P., Nicoulin, M., Dicionário Médico, 2ª ed., Climepsi Editores, 2001, Lisboa;
  4. Vários Autores, Enciclopédia de Medicina, Volume 1 (A-H), 1ª ed. portuguesa, Selecções do Reader’s Digest, 1993, Lisboa.